MATÉRIAS 03

A Casa

Para dormir, é preciso um tatame; para estar desperto, basta meio.

Segundo um ditado japonês, para dormir, é preciso um tatame; para estar desperto, basta meio. Estas palavras se referem ao espaço mínimo em um lar, mas carregam também um significado menos evidente: o de um chamado à moderação, evitando-se o luxo nas habitações.
Por outro lado, no Japão é costume tirar os sapatos ao entrar numa casa. Trata-se de uma prática que consiste em inserir seu corpo em um ambiente puro, diferente do que há do lado de fora da casa. Recentemente, com o avanço das tecnologias de sensores, é possível a interação entre o ser humano e a interface ambiental e, consequentemente, começa a surgir um novo diálogo entre o morador e moradia.

Outro aspecto é que os japoneses – mesmo os que não pertencem às classes mais abastadas – mantêm o costume de contratar um arquiteto para projetar a sua casa. É dito que essa tradição criou um ambiente propício à evolução das habitações e à formação de talentos na arquitetura.
Da antiguidade até os dias de hoje, a evolução das casas japonesas é um indicador da própria história da cultura japonesa e das suas possibilidades para o futuro.

A casa da antiguidade

As primeiras habitações japonesas foram cabanas cavadas no chão chamadas de tateanashiki jyukyo, encontradas no período Jomon, há 2.300 anos. Cavava-se um buraco redondo ou retangular no chão, no qual se levantavam pilares e a armação do teto para formar a estrutura; por sobre a armação do teto colocava-se um telhado de caules de juncos e palha (kaya). Geralmente, no seu interior havia um forno para preparar a comida, um espaço para abrigo do vento e da chuva e para dormir. Mais tarde no período Yayoi, há 1.700 anos, começaram a ser construídas casas com o piso elevado para evitar as inundações e a infestação de ratos.

  • Cabana nas Ruínas de Ayaragi | Província de Yamaguchi
  • Casa elevada | Província de Nagano
  • Cabana nas Ruínas de Ayaragi | Província de Yamaguchi

  • Casa elevada | Província de Nagano

Dormitórios e escritórios

No período Heian, há 800 anos, surgiu a casa aristocrática, com a criação de um dormitório que passou a formar a parte central da residência e ligado a outros cômodos por corredores. Um lago na parte sul do terreno arrematava a construção. O dormitório tinha o formato de uma caixa quadrada dividida internamente por biombos ou cortinas de bambu que são mobílias móveis.
A partir da ascensão dos samurais durante o período Muromachi (século 15 e parte do 16) passam a predominar as casas no qual as salas para receber visitas são os espaços centrais. Outros elementos arquitetônicos tipicamente japoneses também apareceram nessa época: a porta de correr inteiriça (fusuma); as portas vazadas internas vedadas com papel washi (shoji); e o tatame. Começou a se desenvolver as pinturas, chamados de shoheiga, com ilustrações solenes de personalidades nobres.

  • Rolo ilustrado sobre o Conto de Genji
  • Shiro shoin | templo Hongwanji
  • Rolo ilustrado sobre o Conto de Genji

  • Shiro shoin | templo Hongwanji

O sukiya e as salas de chá

A partir de meados do século 15, com a evolução da estética e o avanço das técnicas de carpintaria começaram a surgir casas criadas conforme preferências pessoais e espaços mais sofisticados. O estilo habitacional chamado sukiya nasceu a partir do termo suki, que significa o gosto pelo que é refinado. Além disso, a ascensão súbita da cultura da cerimônia do chá, que busca a beleza no que é simples em contraste ao que é luxuoso e ostensivo, foi o cenário para a criação das salas de chá que podem ser consideradas a representação do minimalismo japonês.

  • Casa de chá Kankyuan de Mushakouji Senke
  • Antiga residência Kishi em Higashiyama | Isoya Yoshida
  • Jardim Kasui-en, The Westin Miyako Kyoto | Togo Murano
  • Casa de chá Sa-an, Gyokurin-in, templo Daitokuji
  • Pavilhão do chá Geppa-ro, Vila Imperial Katsura
  • Miyuki-no-ma (Sala Imperial) | Hasshoukan
  • Miyuki-no-ma (Sala Imperial) | Hasshoukan
  • Casa de chá Kankyuan de Mushakouji Senke

  • Antiga residência Kishi em Higashiyama | Isoya Yoshida

  • Jardim Kasui-en, The Westin Miyako Kyoto | Togo Murano

  • Casa de chá Sa-an, Gyokurin-in, templo Daitokuji

  • Pavilhão do chá Geppa-ro, Vila Imperial Katsura

  • Miyuki-no-ma (Sala Imperial) | Hasshoukan

  • Miyuki-no-ma (Sala Imperial) | Hasshoukan

As moradias populares

As moradias populares comuns até o período Muromachi seguiam o antigo padrão tateanashiki jyukyo descrito acima. A partir do período Kamakura – do final do século 12 ao século 14 – disseminou-se e desenvolveu-se a arquitetura que utiliza o padrão horitatebashira, no qual o piso elevado se apoiava em pilares fincados em cavidades no solo. De modo genérico, haviam dois tipos de horitatebashira: as habitações rurais e as urbanas (de comerciantes). As casas dos agricultores eram adaptadas ao trabalho rural. No chão de terra batida, uma fornalha era edificada e geralmente havia um estábulo.
As casas urbanas eram usadas como moradias e local de trabalho e ficavam em áreas densamente povoadas. A sua entrada era estreita e dava acesso a um corredor que levava ao fundo da casa e na parte de trás, ficavam dispostos os cômodos e o armazém.

  • Umaya-zukuri, casa com estábulo | Cidade de Tono, Província de Iwate
  • Moradias Gassho-Zukuri | Aldeias históricas de Shirakawa-go, Província de Gifu
  • Kyo-Machiya, casas tradicionais dos comerciantes de Quioto | Quioto
  • Minka, casa tradicional japonesa | Cidade de Uchiko, Província de Ehime
  • Kayabuki (telhado de palha) | Wasure no Sato Gajoen, província de Kagoshima
  • Umaya-zukuri, casa com estábulo | Cidade de Tono, Província de Iwate

  • Moradias Gassho-zukuri | Aldeias históricas de Shirakawa-go, Província de Gifu

  • Kyo machiya, casas tradicionais dos comerciantes de Quioto | Quioto

  • Minka, casa tradicional japonesa | Cidade de Uchiko, Província de Ehime

  • Kayabuki (telhado de palha) | Wasure no Sato Gajoen, província de Kagoshima

Apartamentos

Os japoneses começaram a migrar para as cidades no período Edo (do século 17 a meados do século 19). Com o término da Segunda Guerra Mundial foi necessário reconstruir a produção industrial do país, o que impulsionou ainda mais a migração às cidades.
Como os terrenos planos são escassos no Japão que é um arquipélago montanhoso, foram erguidos prédios de apartamentos para garantir a moradia dos habitantes.
Dessa forma, o povo japonês começou a viver em novas formas padronizadas de habitação criadas a partir de análises da vida moderna. Atualmente os prédios de apartamentos da época estão sendo reformados e modernizados para se tornarem em espaços adequados aos dias atuais.

  • Conjunto habitacional Takashimadaira
  • Casas Rokko
  • Conjunto habitacional Senri
  • Conjunto habitacional Chiyogaoka
  • MUJI×UR
  • Conjunto habitacional Takashimadaira

  • Casas Rokko

  • Conjunto habitacional Senri

  • Conjunto habitacional Chiyogaoka

  • MUJI×UR

Casas

Muitos japoneses ainda preferem morar em casas que também podem ser encontradas em grande quantidade por todo o país. Como existe o costume de contratar um arquiteto para projetar a sua casa, mesmo que o proprietário não seja uma pessoa abastada, não é difícil encontrar projetos residenciais únicos e interessantes ocupando pequenos lotes urbanos de forma engenhosa. Pode-se dizer que o talento japonês no campo da arquitetura se deve a este ambiente propício.

  • ambi-flux
  • Casa do telhado “Yane no Ie”
  • Casas em Rokko
  • Casas em Utsunomiya
  • Atsugi Wonder Hills
  • Casa vertical “Tate no Ie”
  • ambi-flux

  • Casa do telhado “Yane no Ie”

  • Casas em Rokko

  • Casas em Utsunomiya

  • Atsugi Wonder Hills

  • Casa vertical “Tate no Ie”

A arquitetura japonesa contemporânea

Muitos arquitetos japoneses contemporâneos têm se destacado ao realizarem projetos para moradias particulares. Um deles é Tadao Ando, autodidata que se destacou por suas residências do tipo Sumiyoshi-no-Nagaya (casa estreita e longa). Já o historiador da arquitetura Terunobu Fujimori tornou-se conhecido ao projetar sua própria casa chamada de Tampopo House (Casa estilo flor dente-de-leão).
A concepção de vida dos proprietários que conseguem usufruir dessas moradias é em si criativo, tal como a sua arquitetura.
De certa forma, os projetos para as casas particulares são os que melhor refletem os desejos futurísticos dos japoneses.

  • Nagaya (casa geminada tradicional) em Sumiyoshi | Tadao Ando
  • Casa Dente-de-Leão “Tampopo” | Terunobu Fujimori
  • Casa Parede-Cortina | Shigeru Ban
  • Casa N |Sousuke Fujimoto
  • Casa NA |Sousuke Fujimoto
  • Air House|Hiroshi Sambuichi
  • Casa en Sakuradai |Go Hasegawa
  • Nagaya (casa geminada tradicional) em Sumiyoshi | Tadao Ando

  • Casa Dente-de-Leão “Tampopo” | Terunobu Fujimori

  • Casa Parede-Cortina | Shigeru Ban

  • Casa N |Sousuke Fujimoto

  • Casa NA |Sousuke Fujimoto

  • Air House|Hiroshi Sambuichi

  • Casa en Sakuradai |Go Hasegawa

As novas cabanas

As cabanas, que outrora eram consideradas moradias modestas e provisórias, têm recebido atenção especial ultimamente. O ditado japonês citado no início – para dormir, é preciso um tatame; para estar desperto, basta meio – não se refere apenas ao espaço mínimo necessário para viver. Revela também a dignidade da vida humilde e honesta, ao se viver em um espaço compacto. Notar a beleza num espaço mínimo é uma peculiaridade da cultura japonesa, e a satisfação em simplesmente existir no meio da natureza continua, certamente, sendo apreciada nos dias de hoje.

  • LUNA HUT | Yoshifumi Nakamura
  • Jyubako, casa móvel | Kengo Kuma
  • Casa de chá Takasugi-an | Terunobu Fujimori
  • LUNA HUT | Yoshifumi Nakamura

  • Jyubako, casa móvel | Kengo Kuma

  • Casa de chá Takasugi-an | Terunobu Fujimori